Deixo-vos aqui um texto de que gosto muito. Chama-se "Os Sapatos Velhos". Assim de repente, pode parecer conter uma mensagem contraditória ao filme "É preciso Ousar!", mas talvez não.... Aqui fica.
Os Sapatos Velhos
[1]“Seja prudente com a novidade. Nunca a procure por ela mesma, mas pela melhoria que ela poderá proporcionar ao seu trabalho e à sua vida. Essa melhoria depende tanto de si como da própria novidade.
A roupa nova que você comprou, só lhe ficará realmente bem quando a tive

r feito sua, ajustada ao seu corpo, adaptada aos seus gestos e à sua maneira de ser.
Esses sapatos novos e bonitos que acabou de comprar, só os desfrutará verdadeiramente quando os tiver desgastado, quando, depois de um período de mais ou menos longo e penoso, dependendo da qualidade do calçado e da sensibilidade dos pés, tiver realmente se apropriado deles, a ponto de ninguém, além de si, poder usá-los com a mesma satisfação. Durante muito tempo, ao voltar para casa depois de uma caminhada, ainda é nos seus velhos sapatos que você descansará os seus pés doridos.
Adopte com a mesma prudência com as técnicas pedagógicas modernas, procurando as que lhe pareçam mais aptas para enfrentar os desafios da formação; não se admire, se a princípio, não forem absolutamente utilizáveis. Desgaste-as, faça-as suas; não tenha nenhum escrúpulo em voltar, de tempos a tempos, aos métodos anteriores que já estejam mais ajustados aos grupos e ao seu temperamento enquanto formador. Então, você voltará com mais ousadia e mais entusiasmo para a vida nova que o espera.
Não espere contudo que os seus sapatos se gastem, ao ponto de ter de voltar para casa com as solas rotas, para ir comprar e amaciar sapatos novos; ou então a ponto de, no inverno, o gelo e o frio os encharcarem e atravessarem o couro gasto.
Há certos indivíduos que temos a impressão de usarem sempre sapatos gastos, com o couro de tão forma endurecido que já formou pregas pré-históricas. E outros que parecem igualmente incomodados com sapatos eternamente novos, que eles não conseguem domar e lhes impõe um andar rígido e automático.
Não seja nem o tradicionalista endurecido, nem o inovador caçador de aventuras. Procure técnicas práticas e flexíveis; desgaste-as na experiência colectiva, faça-as suas até marcá-las com a sua maneira de andar e com o seu temperamento.
Então poderá seguir com entusiasmo e certeza na calorosa caminhada da formação. “
[1] Freinet, P.. Pedagogia do Bom-Senso. S. Paulo: Martins Fontes, 1999